4ª Crónica

A criação dos estúdios Tóbis e a construção por todo o país dos famigerados cine-teatros de Salazar, foram insuficientes para colmatar a escassez de ideia e incomunicabilidade de um povo com o seu cinema, exclusão feita aos anos áureos das comédias povoadas por actores de revista, como Artur Silva, Beatriz Costa, Vasco Santana, Ribeirinho e tantos outros cujos filmes ainda hoje se vendem em versões DVD, restauradas ou não.
Também o período do chamado “cinema novo português” prometeu mais do que a realidade prática acabou por revelar e do primeiro embate há três décadas, ficaram para a história OS VERDES ANOS e MUDAR DE VIDA de Paulo Rocha, BELARMINO de Fernando Lopes e DOMINGO À TARDE de António de Macedo, a que se juntariam no início dos anos setenta O CERCO de António da Cunha Telles, UMA ABELHA NA CHUVA de Fernando Lopes, O PASSADO E O PRESENTE de Manoel de Oliveira, O RECADO de José Fonseca e Costa e poucos mais.
Várias foram as tentativas de pôr a indústria do cinema português em funcionamento, primeiro pela via cooperativa com o CPC, apoiado pela Fundação Calouste Gulbenkian, depois com o sucessivamente chamado IPC, IPACA e ICAM, subsidiado com fundos públicos, mas o saldo tem sido o de um divórcio progressivo entre o cinema português e o seu público, em consequência do método de escolha dos projectos a apoiar e dos próprios filmes, subsidiados a fundo perdido e sem que ninguém, realizador ou produtor, tenha de prestar contas, faça o filme quatrocentos mil espectadores, ou fique-se por escassas centenas, como sucede com frequência.
Sucedem-se as direcções do ICAM e as versões da lei, desespera-se à espera de um cinema competitivo, susceptível de ser visto no país e mostrado no estrangeiro, que talvez só apareça quando acabar a teta dos subsídios e o cinema se sujeite à fria lógica das regras impiedosas da sociedade de consumo em que vivemos.