6ª Crónica

Mesmo discordando desta opinião, o espectáculo de Reynaud em que cenário e personagens habitavam suportes distintos, movidos de modo independente e de forma manual o que na prática significava a inexistência do “objecto-filme”, há que reconhecer o pioneirismo percursor desta iniciativa e admitir que terão sido de facto as primeiras imagens em movimento projectadas perante uma audiência e, uma vez que o suporte era desenhado em papel, inscreveram-se obviamente no campo da animação.

No nosso país, a primeira animação de que há memória “O Pesadelo do António Maria”, de Joaquim Guerreiro, de 1923, foi “reconstruída” por Paulo Cambraia a partir dos desenhos originais, devolvendo-nos um documento de inestimável valor, exibido à época como parte integrante de uma revista.

Sem nunca ter assumido foros de indústria, como sucedeu aliás com qualquer género do cinema no nosso país, a animação registou alguns sucessos notáveis, sobretudo a partir da década de oitenta, com trabalhos como “Os Salteadores” de AbiFeijó, “Shshsh – Sintonia Incompleta” de Mário Jorge, “Estórias do Gato e da Lua” de Pedro Serrazina,”A Noite” de Regina Pessoa e “A Suspeita” de José Miguel Ribeiro, todos eles distinguidos em festivais e competitivos a nível internacional.

O crescente desinteresse dos anunciantes pela publicidade, a perda de fóruns televisivos como os programas de Vasco Granja, algum envelhecimento do excelente festival que é o Cinanima, levaram a alguma quebra na produção de animação no nosso país, em termos de quantidade mas sobretudo de qualidade, de que é franco reflexo a selecção de trabalhos de animação nestes Caminhos do Cinema Português.

Aguardam-se dias melhores para a animação, um riquíssimo género cinematográfico em que o criador mais se assemelha a um deus: tem de criar não só as personagens, mas também os sons, os cenários, enfim tudo aquilo que se oferece aos olhos muitas vezes fascinados do espectador.