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Crónica do Festival – V

O quinto dia da XXIII edição do festival “Caminhos do Cinema Português” começou com Viagens Filosóficas, um filme de Susana Nobre, que constitui a terceira parte (de um total de quatro) do ciclo “No Trilho dos Naturalistas”, tendo vindo a ser exibido no Mini-Auditório Salgado Zenha às 14.30h, desde quarta feira. Este convite à reflexão comprovou-se como mote adequado para a conversa que decorreu no final da sessão da Seleção Caminhos das 15.00h, no TAGV, durante a qual Rosa Coutinho Cabral, realizadora de Coração Negro (filme exibido na referida sessão), falou sobre os novos caminhos que os seus filmes pretendem trilhar no contexto do cinema português. Coração Negro apresenta um casal cuja relação se decompõe ao mesmo tempo que a sua nova casa na ilha do Pico está a ser construída, refletindo de forma poética sobre a forma como até as estruturas mais robustas podem ser, afinal, bastante frágeis. Antes houve lugar para a curta-metragem O Jardim dos Caminhos que se Bifurcam, de João Cristóvão Leitão, que pega no título do conto de Jorge Luís Borges para expor uma fábula sobre personagens mitológicas associadas a labirintos, neste caso Ícaro e o Minotauro.

Depois, na sessão das 17.30h, foram exibidos os filmes Já Passou, de Sebastião Salgado, O Dia em que as Cartas Pararam, de Cláudia Clemente, e Ilha dos Cães, de Jorge António. Os três realizadores estavam presentes na sala, o que permitiu um debate final bastante estimulante acerca do processo criativo por detrás destes filmes.

Entretanto, no Alma Shopping, foi possível assistir a mais uma sessão do Programa de Reposições, especialmente destinadas aos que não tiveram possibilidade de ver os filmes nas sessões do TAGV ou do Mini-Auditório Salgado Zenha – ou mesmo para os que os viram, mas que desejam vê-los outra vez. Ontem houve nova exibição de A Carga, de Luís Campos, de Icarus, de Tom Teller, e de Ao Telefone com Deus, de Vera Casaca, entre outros.

De volta à sala principal do TAGV, há que destacar a sessão da Seleção Caminhos das 21.45h, que foi bastante intensa, tendo em conta que era composta por seis filmes. Destaquem-se O Sapato, de Luís Vieira Campos, Hei-de Morrer Onde Nasci, de Miguel Munhá, e Longe da Amazónia, de Francisco Carvalho, que no debate final tiveram a oportunidade de apresentar as suas obras ao público que estava presente na sala e responder às questões levantadas.

O dia terminou com mais uma Master Session, desta vez subordinada ao tema “O outro eu”, que propunha pensar de que maneira um projeto cinematográfico pode influenciar a vida dos atores, dos realizadores e de todos os outros intervenientes na realização de um filme, muitas vezes tendentes, e através de várias formas, a desdobramentos em diversos “Eus”. Moderada por Bruno Fontes, contou, no seu painel, com Jorge António, Luís Vieira Campos (ambos realizadores e produtores), Leonardo Mouramateus (realizador) e Mauro Soares (ator). E foi a melhor forma de acabar este quinto dia tão propício a diversas formas de encarar e de pensar o cinema português.

Bruno Fontes
2017-12-02

 

 

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