Cinema Documental Português

Resumo

Como mote para uma abordagem à História do Cinema Documental português iremos confrontar duas ideias. A primeira, através da frase de John Grierson que por volta de 1926 definiu o cinema documental como o ” tratamento criativo da realidade” – e a segunda através da frase de Augusto M. Seabra que em 1990 afirmou existir uma “recusa do cinema português em enfrentar directamente o real em que se insere”. Tendo em conta este paradoxo iremos então iniciar uma viagem desde os primórdios do documentário português até à era actual, sublinhando alguns dos principais filmes de cada era.

Mas quando terá começado o cinema documental português? Em 1977, Luís de Pina num texto intitulado: “Documentarismo Português” refere-se a Aurélio da Paz dos Reis como o primeiro documentarista por “registar a vida e os acontecimentos de um modo directo”, e depois refere Costa Veiga, João Tavares e Freire Correia. Mas, Pina afirma que “o documento não se transformara ainda em documentário” pois “a câmara regista em vez de narrar” e “o conceito de documentário circunscrevia-se ao registo do acontecimento”, eram “vistas panorâmicas”. É então nos anos 20 que Luís de Pina entende que passam a surgir filmes que deixam de ser “documento” para serem “documentário”. Enquanto “documentário”, os filmes remetem para uma dimensão autoral, são filmes cujos temas remetem fortemente para a uma ideia de realidade e que, do ponto de vista da linguagem cinematográfica, se tornam inovadores. Assim sendo, pode considerar-se o filme Nazaré, Praia de Pescadores e Zona de Turismo (1928), de Leitão de Barros como o primeiro documentário português  “em que a paisagem é apenas pretexto para enquadrar o homem, senhor da terra e do mar”. Douro, Faina Fluvial (1931), de Manoel de Oliveira é outro filme importante desta época. Após a instauração da ditadura, podemos considerar que terá surgido um longo hiato sem obras de renome, que só voltarão a surgir já nos anos 70. Um filme de destaque é o belíssimo filme de forte componente experimental “Jaime” (1974) de António Reis. E os filmes de forte componente política, como o “Que farei eu com esta espada?” (1975) de João César Monteiro ou o “Bom Povo Português” (1980) de Rui Simões. A partir dos anos 90 podemos considerar que se começou uma nova era do cinema documental português. O filme “Lisboetas” (2004), de Sérgio Tréfaut, o filme “48” (2009), de Susana Sousa Dias e a “Fábrica de Nada” (2017) de Pedro Pinho, são alguns dos filmes que merecem destaque. Para concluir, iremos voltar à questão colocada inicialmente: continua ou não a existir uma “recusa do cinema português em enfrentar directamente o real em que se insere”? Caso a resposta seja negativa, iremos discutir os porquês e concluir assim esta curta viagem pela longa História do Cinema Documental Português.

Objectivos a atingir

Conhecer a história e panorama do cinema documental Português.

Plano de Sessão

  • Os primórdios do cinema documental português: 1920-1930
  • O paradoxo do cinema documental português
  • O cinema da liberdade 1970-1990
  • O novo cinema documental português 1990-2018
  • Continua a existir um paradoxo no cinema documental português?

Material necessário

Lápis e papel.

Local

Departamento de Engenharia Informática, Pólo II
Pinhal de Marrocos, Coimbra

Data e Horário

17 de Março
9:00 — 18:00
8 horas

Inscrições

40€ estudantes / 60€ público geral
10% desconto para associados e membros UAb
Lotação máxima de 20 formandos

Inscrever

Formador

Ricardo Leite

Ricardo LeiteRealizador

Ricardo Leite nasceu em 1978 em Santa Bárbara d'Oeste, estado de São Paulo, no Brasil. Estudou cine-vídeo e teatro na Escola Superior Artística do Porto entre 1998 e 2002. Organizou e participou desde 1999 em variadas Mostras e Exposições dentro da área do Cinema, tendo participado em eventos na Europa, Marrocos, Brasil e Cabo-Verde. Colaborou e trabalhou com instituições como o Cineclube do Porto, Cineclube Amazonas Douro e a Associação de Iniciativas Culturais e Artísticas, no Porto, (AICART). Foi um dos sócios fundadores do projecto Átomo47, o único laboratório de cinema independente do país, inaugurado em 2007. Tendo trabalhado maioritariamente no género experimental e em película, voltou ao género documental com o longa-metragem em vídeo “Mazagão, a água que volta”, subsidiado pelo ICA e RTP em 2011. É também director de fotografia em projectos filmados em película e vídeo. Presentemente trabalha no seu laboratório de cinema independente de estrutura associativa – Átomo47 que colabora com a Casa da Imagem em V.N. de Gaia. A Átomo47 faz parte de uma lista internacional de 40 laboratórios independentes ( www.filmlabs.org ). É doutorando no curso de Educação Artística da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.

Outros Módulos