Realização Documental

Resumo

Documentário ficcional, documentário observacional, documentário sensorial, documentário para televisão… O documentário reinventa-se todos os dias. Talvez seja o género cinematográfico em maior expansão criativa hoje em dia.

Pessoalmente, a narrativa documental tem como imperativo a ausência de um guião definido e assenta na vertigem da imprevisibilidade da vida. No documentário procuram-se verdades, denunciam-se verdades, exaltam-se verdades mas, no final, será sempre a verdade de quem o capta. Existe sempre um sentimento de intrusão intensa na vida dos outros mas, ao mesmo tempo, um sentimento de prazer em contar estórias inacessíveis. Grande parte do processo documental é, sobretudo, estabelecer pontes de confiança, mais até do as imagens e sons da estória. São pontes sentimentais onde existem os dilemas éticos e deontológicos de veracidade de situações e momentos, porque, afinal, estamos a lidar com vidas reais! Tudo tem que ver com este jogo entre o retratado e quem retrata, de nortear o guião em função do que vamos conquistando em termos de acesso ao íntimo de uma pessoa real. A cumplicidade e confiança necessária para se atingir uma invisibilidade de câmara na mão.

Criar uma linha estética de um documentário é, à partida, difícil de definir. Não se controla o processo da vida real, não se controla o tempo nem as vontades. Não se controla o tempo de rodagem nem o seu termo. Resta-nos o estar no sítio certo no tempo certo com o material de captura certo. As limitações reais inerentes ao documentário são estudadas e otimizadas a fim de se encontrar um estilo, e a arte criativa documental surge quando “com o pouco se faz muito”. Interessa discutir a utilização de recursos e técnicas estilísticas cada vez mais acessíveis (como slowmotion e estabilizadores de câmara, drones) e como servem, sempre e apenas, a ideia. É muito importante haver um critério artístico relativamente aos recursos estilísticos cada vez mais acessíveis.

Na rodagem de um documentário a equipa é pequena e multidisciplinar. Deverá haver um rigor técnico, um rigor preventivo, preocupação pela autonomia dos equipamentos, deverá haver atenção à atitude “invisível” perante o set. A abordagem técnica às situações a retratar onde a escolha de lentes é tão primordial como a captura do áudio. A escolha de uma lente pode definir a linguagem estética de um documentário, bem como a importância que o sound design possa vir a ter. A fotografia está muito próxima da realização bem como o áudio e a produção. Toda a equipa depende da comunicação no momento. Não se podem perder momentos irrepetíveis seja de que maneira for. Quanto mais preparada a equipa estiver melhor o resultado final.

A gestão e catalogação de dados, durante a rodagem, é cada vez mais importante numa produção, o visionamento diário dos brutos é essencial. Na rodagem o guião transforma-se de dia para dia e o visionamento das horas gravadas do dia anterior permite-nos premeditar e reescrever o dia a seguir.

A realidade supera sempre a ficção.

Plano de Sessão

– 1ª Sessão:
o apresentação coletiva
o análise de casos práticos
o análise do plano de rodagem: escolha de equipamento e olear a rotina de trabalho com elementos da equipa; provocação de cenas ou trabalho observacional; otimização de recursos; escolha de lentes.
o postura “invisível” num set documental

– 2ª Sessão:
o Repérage com recolha de imagens para análise ou para o projeto final

– 3ª Sessão:
o Rodagem; visionamento de brutos; gestão de dados

– 4ªSessão
o Rodagem; visionamento de brutos; gestão de dados

Material necessário

A definir em função da produção adoptada nos módulos anteriores.

Objectivos a atingir

No módulo de Realização Documental os formandos deverão conseguir fazer uma análise do plano de rodagem, realizando a réperage e marcação de filmagens. Será produzido um documentário no âmbito do tema da 20.ª Semana Cultural da Universidade de Coimbra, em que os formandos deverão ser capazes de assegurar a produção com o apoio da organização. Espera-se ainda que os formandos aprendam como organizar o material audiovisual produzido e como se realiza a sua gestão de cópias de segurança.

Local

Secretariado do Festival
Rua Padre António Vieira, Ed. AAC, 1.º Piso, Coimbra

Outros locais da cidade de Coimbra a definir de acordo com o plano de trabalho.

Data e Horário

25 a 28 de Março
9:00 — 18:00
32 horas

Inscrições

160€ estudantes / 240€ público geral
10% desconto para associados e membros UAb
Lotação máxima de 20 formandos

Inscrever

Formador

Pedro Magano

Pedro MaganoRealizador

Pedro Magano (Ílhavo,1981), estudou Tecnologias da Comunicação Audiovisual no Porto, na Escola Superior de Música, Artes e Espetáculo (ESMAE) acabando a licenciatura em 2007. Entre 2003 e 2008 colabora com a RTP como operador de câmara.

Como Diretor de Fotografia participou nos documentários "O Vício da Liberdade", (2011) e "Manuel António Pina - Um sítio onde pousar a cabeça" (2012), ambos produzidos pela Terra Liquida Filmes. Em 2014 colaborou no projeto ArtMénia”, da Fundação Gulbenkian, e em 2015 nas suas duas primeiras longas-metragens documentais como realizador, “Irmãos” e “A um mar de distância”.

Como realizador, Pedro estreou-se em 2007, com a curta-metragem no âmbito escolar “Logo hoje”,obtendo o Prémio Competição de Avanca, no Festival Internacional de Cinema de Avanca. Seguiu-se a média-metragem documental "Era Uma Vez no Iraque" (2014) sobre o atentado à base militar em Nassíria, em 2003. “Irmãos” é a primeira longa-metragem de Pedro, um documentário sobre as romarias de São Miguel, que obteve o Grande Prémio do Festival Caminhos do Cinema Português (PT, 2015), o Lince de Ouro de Melhor Documentário no Fest – New Directors FilmFestival  (PT, 2016), foi selecionado em vários festivais, entre eles, no Festival Filmes do Homem(PT) e no Festival Internacional de Cinema Documental de Ciudad de México - DOCS MX. “Irmãoschegou também a Cabo Verde, Moçambique e EUA, foi convidado a participar no Mercado do Festival Visions du Réel  (2016) e recentemente foi lançado em DVD pela Real Ficção.  Em 2016 foi a estreia de “A um mar de distância”, segundo documentário, rodado entre o Canadá e Portugal, sobre as sepulturas esquecidas dos pescadores de bacalhau portugueses. Este filme recebeu uma Menção Honrosa no Festival Caminhos do Cinema Português, foi exibido na Mostra de Cinema Português Contemporâneo de São Paulo (BR), no Festival de Curtas-metragens dos Açores (PT)  e no Festival de Cinema Português de Moscovo (RUS), antes de ter a sua estreia na RTP Internacional e no Portuguese TV Channel (EUA). 

Atualmente, o realizador está a finalizar a pós-produção da curta-metragem de ficção, “Luana”, e a desenvolver um novo documentário para 2018 entre Portugal e EUA.

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