Vice-Reitora para a Cultura e Comunicação da Universidade de Coimbra

Vice-Reitora para a Cultura e Comunicação da Universidade de Coimbra Clara Almeida Santos

Jorge Brum do Canto terá dito um dia que “o cinema português é como a eletricidade - ninguém sabe de que se compõe”, aforismo que seguramente resulta da sua vasta cultura cinéfila e da sua própria experiência como realizador e crítico de cinema desde muito jovem. Mas o cineasta não viveu para assistir às dinâmicas atuais do cinema português. Tendo morrido em 1994, foi seguramente com desgosto que tomou conhecimento dos dados relativos às exibições e sessões de cinema português em Portugal na última década da sua vida. (...)


De acordo com dados da Pordata, em 1980 foram exibidos 41283 filmes portugueses. No ano anterior à morte de Brum do Canto, atingiu-se o mínimo histórico de 1496 sessões/exibições. A partir de 1999, os números são um pouco mais animadores e a estatística mais recente revela a existência de 27325 sessões em 2015.
Segundo dados do Instituto do Cinema e do Audiovisual, em 2015 foram atribuídos 248 prémios (nacionais e internacionais) a filmes portugueses. Desses, 18 são distinções obtidas nos Caminhos do Cinema Português, o que corresponde a mais de 7% do total.
Se, neste pequeno texto, tanto valor é dado aos números, é porque eles são precisos e preciosos para percebermos a composição das coisas. O papel dos Caminhos do Cinema Português é de uma enorme importância na divulgação e no reconhecimento da sétima arte que se faz no país.
Ou, se quisermos, crucial para um melhor conhecimento d’“A Glória de fazer cinema em Portugal”, título roubado a uma curta metragem premiada em 2015 pelo festival ao qual dedico estas linhas, e que remete para uma carta de José Régio escrita ao amigo Alberto Serpa. Nela, o escritor alude ao empréstimo ou aluguer de uma máquina prodigiosa para que o grupo dos Ultra (fundado, precisamente, em Coimbra) pudesse também experimentar a linguagem cinematográfica, tendo como “condição sine qua non das nossas primeiras experiências” a presença da dita máquina, pelo menos durante um ano, em Coimbra.
[as coisas que se sabem graças a’Os Caminhos…]

Os Caminhos do Cinema Português são, afinal, uma celebração que resiste – como outros honrosos exemplos em Portugal – às tempestades magnéticas no panorama cultural do país, e que constituem uma oportunidade para conhecer a composição, tecida de tantos fios, elétricos ou não, do cinema português.